Só Pega no Tranco

Meu cérebro é meio assim: Só pega no tranco! Se eu passar muito tempo sem usá-lo ele oxida totalmente. Para evitar isso, vou procurar dar algum trabalho ao coitado. Não esperem muito.

sábado, setembro 09, 2006

Não é ilegal, mas é imoral!



Ernest Hemingway em seu livro “Morte à tarde” disse que “moral é o que te faz sentir bem depois de tê-lo feito, e imoral o que te faz sentir mal”. Essa afirmação pressupõe uma ética individual tal que esteja em um nível de probidade que não se permita o auto-convecimento com tamanha facilidade que acomete àqueles a quem determinadas práticas beneficiam. Explico: suponha que você esteja recebendo dinheiro para trabalhar em uma campanha eleitoral e este dinheiro em vez de ser proveniente dos cofres do partidos, saem do Estado, controlado pelo candidato para o qual você trabalha. Uso da máquina, de forma nojenta e, infelizmente, comum no Brasil. O esquema é simples: você é contratado para fazer campanha, porém sem vínculo empregatício com o Estado (você é terceirizado) e existe um falso pano de fundo no qual você supostamente executa funções legais. Logo, você está legalmente amparado. Porém, moralmente nu. Aí entra a questão da ética pessoal: você tem de escolher se aceita a situação e procura se convencer de que por não haver ilegalidade aparente você não está lesando a pátria, tirando dinheiro da boca de crianças e por aí vai, ou então pôr à frente de seus interesses a verdade explícita, de que isso é um ato ímprobo mascarado de correto.

Nessas horas, pesa bastante a cultura nacional. Em um país na qual a deputada Ellen Ruth (RO) defende propinas dizendo que “Você não vai mudar o mundo, nós não vamos mudar o mundo”, o que esperar da grande massa? Revolta? Sim, é claro. Esperaríamos se não houvesse a impunidade que há. Mas em terras tupiniquins, o que ocorre é uma desesperança tão grande que isso soma-se ao nosso “jeitinho brasileiro” e passa a fazer parte do imaginário popular, que acha que fazer política é a arte da sem-vergonhice e desfaçatez.

Então, nas esferas mais baixas do partidarismo, na gênese do Partido, que é a sua juventude, essa nova safra de “companheiros” já “aprende” (entre aspas, sim senhor!) que não se pode fazer política sem sujar as mãos e que qualquer poder conquistado já lhe dá ao direito de só ter direitos, e não mais os deveres civis. É como um passe livre para agir à revelia das leis, pois você não se enquadra mais na classe dos sujeitos à Lei...

Aí temos exemplos que surgem desde o gabinete do Presidente, até o gabinete da Prefeitura, onde o maquiavelismo na sua interpretação suja se faz. Qual o fim? Eleger o filho do prefeito. Então vamos nos valer de todos os meios à disposição. Afinal, sempre foi assim... Montesquieu já avisava que “é uma experiência eterna de que todos os homens com poder são tentados a abusar”

E nesse meio a juventude de um partido, que deveria estar sendo instruída na arte da política de forma a melhorar o triste quadro, é ensinada de que o “jogo é assim e vai continuar sendo” e que o melhor é embarcar nessa. “Vamos, sua alma não vale tanto assim”. E mais um politiquinho surge... Começa assim, ganhando um salário pra fazer campanha e depois está recebendo mensalão pra vender seu voto.

Mas, agora é a vez de Bertolt Brecht (in “A Ópera dos Três Vinténs”): “Primeiro vem o estômago, depois a moral”